Vários historiadores situam a sua fundação por alturas de fins do século dezanove, o que não passa de um ato de metacronismo puro. O reconhecido historiador Pinharanda Gomes, em História da Diocese da Guarda página 387 diz, citando Origens e Formação das Misericórdias Portuguesas de Fernando da Silva Correia, que a Misericórdia do Soito seria de fundação posterior a 1897. Não queremos retirar mérito a estes dois grandes historiadores, altamente conceituados, que escreveram certamente baseados nos dados que possuíam, o certo é que a história faz-se todos os dias, nunca está completa, há sempre novas verdades que surgem e que trazem luz a situações até então obscuras.

Os documentos mais antigos existentes no Arquivo Paroquial datam de 1846, e é em 15 de Julho de 1847, que, referentes a 1846/47, Manuel Vaz de Carvalho dá contas a Manuel Martins Furriel, ambos tesoureiros, um que sai e outro que entra em funções, num total de 37.490 e 36.500 reis, respetivamente receita e despesa.

Não podemos situar a fundação da Misericórdia do Soito nessa data, nem determinar outra sob pena de errarmos, é porém verdade que se o Hospital, edifício que sofreu reparações consecutivas a cargo da Misericórdia, o Calvário, os Nichos, a capela da Misericórdia, a antiga, e que existiu muito antes de existir cemitério e porventura outras obras de vulto eram sua propriedade, e se tanto quanto sabemos o Calvário e a capela da Misericórdia já existiam em meados do século XVIII, pois já nesta data o Padre Hipólito Tavares referia que a Misericórdia do Soito tinha capela própria e como renda a quantia de 20.000 reis, enquanto que à do Sabugal, na mesma altura, eram atribuídos 100.000 reis e estava sedeada na Igreja de São Miguel.

Sabemos por consulta nos documentos paroquiais da época, existentes no Arquivo Distrital da Guarda, que os mortos eram sepultados dentro das Igrejas, Capelas e respetivos adros e havia corpos sepultados na Igreja Matriz, na capela de Santa Bárbara, na Capela de Santo Amaro e na do Espírito Santo, também a Capela, ou Igreja, como várias vezes é referida, da Santa Casa da Misericórdia, acolhia os restos mortais dos Soitenses.

O registo do primeiro enterro nessa capela, de que tenhamos conhecimento, data de 14 de fevereiro de 1695, o que não quer dizer que os não haja anteriores, porém, devido a um vazio documental referente a algumas décadas anteriores, é impossível saber qual a data exata em que tal prática terá sido iniciada.

Sabemos também que o Soito foi durante alguns séculos, a única aldeia da região a ter, implantada e a funcionar, uma Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, pois Sortelha, Alfaiates, Vilar Maior, Vila do Touro, Alverca da Beira, Linhares e Melo foram vilas ou sedes de concelho.

É de realçar ainda o facto de a Misericórdia ser em 1846 já possuidora de um Património razoável, visto ter recebido nesse ano, rendas de centeio, (cento e catorze alqueires) de castanheiros e de palheiros num total de 37.490 reis, como se refere acima. Não se adquire um património assim valioso de um dia para o outro, e se beneméritos tão importantes como Baltazar da Costa e sua esposa Dona Leonor, falecidos na primeira metade do século XVIII, se dignavam legar-lhe os seus avultados bens, é porque a SCMS estava já bem assente, enraizada, considerada, respeitada, tanto a nível local corno regional e era bem mais participada do que hoje tendo em atenção que o Provedor, mas principalmente o Tesoureiro, eram eleitos todos os anos e não faltava quem assumisse essas funções que só extraordinariamente podiam ser ocupadas dois anos consecutivos pelo mesmo irmão.

A Santa Casa da Misericórdia do Soito iniciou atividades em Lar e Centro de Dia a 10 de Janeiro de 1987.
A Creche iniciou funcionamento no dia 1 de Setembro de 1993. Passaram-se muitos anos e foram feitas remodelações a todo o espaço envolvente bem como atualizações nas infraestruturas.

Em 2020, a Santa Casa da Misericórdia do Soito irá iniciar a obra de construção do Lar e do Centro de Atividades Ocupacionais para Deficiência.

A Instituição deixa-se guiar pela história e raízes para continuar a ter presente que “aqui cuidamos”.